Minerais de Terras Raras no Brasil?

Os minerais de terras raras (MTR) são um grupo de 17 elementos químicos da tabela periódica, incluindo os 15 lantanídeos (lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio e lutécio), além de escândio e ítrio. Esses elementos possuem propriedades únicas, como alta condutividade elétrica, magnetismo e luminescência, sendo essenciais para tecnologias avançadas, como turbinas eólicas, baterias de veículos elétricos, smartphones, lasers, equipamentos médicos e armamentos de alta precisão. No Brasil, o potencial para a exploração de MTR é significativo, mas o país enfrenta desafios técnicos, econômicos e ambientais para se consolidar como um player global nesse mercado.

1. Contexto Global das Terras Raras
O mercado global de MTR é dominado pela China, que responde por cerca de 60% da produção mundial e mais de 80% do processamento, segundo dados recentes. Essa concentração gera preocupações geopolíticas, especialmente em países dependentes dessas matérias-primas para suas indústrias de alta tecnologia. O aumento da demanda por MTR, impulsionado pela transição energética e pela digitalização, tem levado nações como o Brasil a reavaliarem suas reservas e estratégias de exploração.

2. Reservas e Depósitos no Brasil
O Brasil possui reservas significativas de MTR, estimadas em cerca de 21 milhões de toneladas de óxidos de terras raras (OTR), segundo o Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Essas reservas estão distribuídas em diversos estados, com destaque para:
Araxá (Minas Gerais): O maior depósito conhecido está associado à mina de nióbio da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Os MTR são subprodutos da extração de nióbio, o que reduz custos operacionais. Estima-se que Araxá tenha potencial para produzir milhares de toneladas de OTR anualmente.
Catalão (Goiás): Operado pela Mosaic Fertilizantes, o depósito está ligado à produção de fosfato, com MTR como coproduto.
Pitinga (Amazonas): A mina de estanho da Mineração Taboca contém depósitos de MTR, especialmente itérbio e disprósio.
Serra Verde (Goiás): Um projeto dedicado exclusivamente à produção de MTR, com operações iniciadas recentemente pela Serra Verde Mineração. É um dos poucos projetos fora da China focados em terras raras pesadas, como disprósio e térbio, que possuem maior valor de mercado.
Morro do Ferro (Minas Gerais): Um depósito promissor, com alta concentração de neodímio e praseodímio, essenciais para ímãs permanentes.
Além desses, há depósitos em exploração inicial em estados como Bahia, Pará e Rio Grande do Norte. O Brasil também possui depósitos de monazita, um mineral rico em MTR, em areias costeiras (depósitos aluvionares) no litoral do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia.

3. Potencial Econômico
O Brasil tem a oportunidade de se posicionar como um fornecedor estratégico de MTR, especialmente para mercados como Estados Unidos, Europa e Japão, que buscam diversificar suas fontes de suprimento. Os principais fatores que sustentam esse potencial incluem:
Reservas abundantes: O país detém uma das maiores reservas globais, com diversidade de elementos, incluindo terras raras pesadas, que são mais escassas e valiosas.
Sinergia com outras indústrias: Em Araxá e Catalão, a extração de MTR pode ser integrada à produção de nióbio e fosfato, reduzindo custos e impactos ambientais.
Demanda crescente: A transição para energias renováveis e a eletrificação de veículos aumentam a necessidade de MTR, especialmente neodímio, praseodímio e disprósio.
Localização estratégica: A proximidade com mercados ocidentais e a estabilidade política relativa do Brasil são vantagens em relação a outros países produtores.

4. Desafios para a Exploração
Apesar do potencial, a exploração de MTR no Brasil enfrenta obstáculos significativos:
Tecnologia de processamento: A separação e purificação de MTR requerem processos complexos e tecnologias avançadas, dominadas pela China. O Brasil ainda depende de parcerias internacionais para desenvolver essa capacidade.
Impactos ambientais: A mineração e o beneficiamento de MTR podem gerar resíduos radioativos, como tório e urânio, presentes em minerais como a monazita. A gestão desses resíduos exige regulamentações rigorosas e tecnologias de mitigação, o que eleva os custos.
Falta de cadeia produtiva: O Brasil exporta MTR na forma de concentrados, com baixo valor agregado. A ausência de uma indústria de refino e manufatura limita os benefícios econômicos.
Regulamentação e burocracia: A obtenção de licenças ambientais e autorizações para mineração no Brasil é lenta e complexa, desestimulando investimentos.
Competitividade global: A China mantém preços baixos, dificultando a entrada de novos players no mercado. Além disso, países como Austrália e Canadá também estão expandindo suas capacidades de produção.

5. Iniciativas e Perspectivas
Nos últimos anos, o governo brasileiro e o setor privado têm tomado medidas para impulsionar o setor de MTR:
Políticas públicas: O Programa Nacional de Mineração de Terras Raras, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia, visa mapear depósitos, atrair investimentos e desenvolver tecnologias de processamento. A CPRM tem intensificado estudos geológicos para identificar novos depósitos.
Investimentos privados: Empresas como a CBMM e a Serra Verde Mineração estão ampliando suas operações. A Serra Verde, por exemplo, iniciou a produção em 2024 e planeja exportar concentrados para mercados internacionais.
Parcerias internacionais: O Brasil busca cooperação com países como Japão, Austrália e Estados Unidos para transferência de tecnologia e acesso a mercados. Em 2023, acordos foram firmados com os EUA para desenvolver cadeias de suprimento sustentáveis de MTR.
Pesquisa e desenvolvimento: Instituições como o Centro de Tecnologia Mineral (CETEM) e universidades brasileiras estão trabalhando em métodos de extração mais sustentáveis, como a biolixiviação, que utiliza microrganismos para separar MTR.

6. Sustentabilidade e Governança
A exploração de MTR no Brasil precisa ser conduzida com responsabilidade ambiental e social. A mineração em áreas sensíveis, como a Amazônia, exige monitoramento rigoroso para evitar desmatamento e contaminação. Além disso, é fundamental envolver comunidades locais e garantir que os benefícios econômicos sejam distribuídos de forma equitativa.
A adoção de práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) é crucial para atrair investidores internacionais, que priorizam projetos sustentáveis. O Brasil pode se diferenciar no mercado global ao implementar padrões elevados de sustentabilidade, como a reciclagem de MTR e a redução de emissões no processamento.